Marca do desconhecido

"Muito, muito difícil. (...) Os estúdios precisam de uma marca que já tenha valor agregado, porque isso tem de alcançar uma plateia imensa para ter algum retorno. É corajoso por parte do estúdio bancar um filme como Avatar, mas, por outro lado, se der certo, a recompensa também é gigante. (...) As pessoas sabem demais antes de entrar no cinema".

James Cameron em entrevista publicada na revista SET, edição de setembro de 2009, respondendo como é chegar com uma ideia original para o cinema, sem reconhecimento prévio de marca. Durante a entrevista, ele se refere especificamente às adaptações de quadrinhos, atualmente o filão mais lucrativo para Hollywood. E Cameron foi certeiro: não se trata apenas de buscar as ideias de outras mídias, mas de aproveitar o valor da marca. E isso vem desde o início das projeções cinematográficas (como em Viagem à Lua, dirigido por George Méliès em 1902, influenciado pelo livro de Julio Verne). Olhando numa lista como esta ou esta, por exemplo, percebe-se a presença de remakes (Hora do Pesadelo, Fúria de Titãs, O Lobisomen) e sequências (Toy Story 3, o próximo Harry Potter, mais um Shrek, etc). Mas claro que as adaptações de quadrinhos estão lá também, de Homem de Ferro 2 a Kick-Ass. A importância do reconhecimento da marca antes da sessão fica mais evidente nesta lista, mostrando que, dos 30 filmes mais lucrativos da década, apenas dois não são baseados em obras anteriores (remake ou sequência) ou adaptações de um produto já estabelecido. 

Não há nada de errado em buscar inspirações em outras áreas além do cinema, principalmente porque excelentes filmes surgiram assim. É a força da imagem.  Claro que existem os riscos de fugir da essência da obra original. Mas a sensação de total desconhecimento do filme ao entrar na sala de cinema merece uma chance, o que é muito difícil em tempos de adaptações e internet. E este é mais um motivo de expectativa em torno de Avatar, além dos que já foram citados em um texto anterior. O ineditismo da obra. E em grandes proporções. Tentar ser original é sempre louvável. Principalmente vindo de alguém que não precisa se arriscar, como é o caso de James Cameron, diretor do filme de maior bilheteria da história do Cinema. Mesmo que Avatar fique abaixo do esperado, vale reconhecer o esforço. É uma pena que sempre é preciso um nome de peso para fazer um projeto original ir pra frente, como fez Peter Jackson ao produzir Distrito 9. Mas é a lógica de qualquer empreendimento capitalista. Faltar ideias é pior que faltar dinheiro. Mesmo que o preço seja se surpreender cada vez menos no cinema, já que fora da sala a vida sempre garante algumas surpresas, agradáveis ou não.

3 comentários:

Suneko disse...

Exatamente por isso fiz questão de não ler Watchmen antes de ver o filme, nao queria ler o roteiro, não queria saber do que se tratava, sabendo apenas que era de autoria de Alan Moore já valeria a pena. Fiz o mesmo com Batman The Dark Knight, I Am The Legend, District 9 e alguns outros, me reservei o direito de não saber. Mas grandes clássicos de HQ, Livros, Games e etc indo para as telas incomoda para aqueles que já conhecem o universo da obra, Avatar: The Last Airbender é um dos exemplos dos que eu acredito que não deveriam sair do original, e eu temo por uma adaptação forçada de Metal Gear Solid. Quanto ao filme Avatar de James Camerom me faz ficar ansioso com o desconhido proporcionado onde ninguém pode aparecer me contando do que se trata.

CrápulaMor disse...

Nossa! Muito eloquente mesmo esse dado de que dos 30 filmes mais lucrativos da década apenas 2 não são baseados em obras anteriores. Por mais que não haja nada de errado em buscar inspiração em outras áreas, como você disse e eu concordo, o cinema também não pode ficar refém de histórias que já tenham algum retorno financeiro previsível, né? Tô bem interessado em assistir Avatar!

L disse...

É uma pena que realmente seja necessário um nome de peso para que uma ideia original e criativa saia do papel nos cinemas. Nos mangás, ao contrário, há muita liberdade para a elaboração de várias ideias boas. É claro que há uma selação e imposição de estúdios, mas acredito ser menor se comparada a um filme.

Talvez Hollywood esteja esquecendo que as grandes marcas delas um dia vieram de algum lugar, e que ver algo completamente novo e firme é uma sensação única. Que as pessoas que viram o Neo se desviar de balas no cinema que o digam. =D

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