Chave de ouro

O filme mais esperado para o fim deste ano é Avatar, dirigido por James Cameron. Onze anos depois de fazer a maior bilheteria da história do cinema mundial com Titanic (um hiato que só faz aumentar a expectativa para o filme seguinte), o diretor volta ao gênero da ficção científica, campo onde seu nome é referência graças a trabalhos como O Segredo do Abismo e O Exterminador do Futuro. Desenvolver e utilizar avançadas tecnologias de efeitos visuais no cinema para contar boas histórias é uma característica de Cameron, e promete seguir o estilo. Porém, além da fama e competência do diretor, a espera por Avatar representa a chance de um grande filme encerrar o ano de 2009 e a década.

Claro que este ano trouxe bons filmes, mas as obras mais esperadas ficaram abaixo do memorável (Star Trek e Inimigos Públicos foram as sessões mais gratificantes para mim). E o sentimento de que o cinema do último ano da década está deixando a desejar é reforçado pela memória de 1999, ano de lançamento de alguns filmes cultuados até agora: Matrix, Clube da Luta, O Sexto Sentido, Quero Ser John Malkovich. Há outros exemplos não tão célebres, mas que repercurtiram sensivelmente aos olhos dos espectadores, como O Informante, De Olhos Bem Fechados, Segundas Intenções e Beleza Americana. Um certo pessimismo diante da vida (talvez pela proximidade do fim do milênio) parece ter sido um componente importante para a fertilidade daquele período.

Porém, o filme lançado em 1999 cuja influência mais se sente nos últimos meses é A Bruxa de Blair. Não somente pelo formato documentário, câmera na mão, num estilo neoverité, visto ano passado em [REC] ou atualmente em Distrito 9. O grande êxito do filme foi se vender como se tratasse de uma história real: atores amadores que permitiram o uso de seus nomes reais para os personagens, sentindo frio, recebendo cada vez menos comida da equipe de produção, diálogos e gravações semi-improvisados, apenas seguindo vagas instruções dos diretores sem saber o que encontrariam pela frente, tudo para obter o efeito mais realista possível da degradação psicológica dos protagonistas.


Durante as filmagens, mesmo cientes de que se tratava de um obra de ficção, os atores acreditavam que a lenda da Bruxa realmente existia, até serem informados posteriormente que toda a mitologia da história foi concebida pelo criadores do filme. Além disso, os diretores fizeram para a TV um falso documentário (mockumentary) como material promocional, onde explicavam a origem da lenda e entrevistavam familiares e amigos dos estudantes desaparecidos. Criaram um site exibindo cartazes de "desaparecidos" com a foto dos atores e, no Festival de Cannes, espalharam folhetos informando que o paradeiro dos três estudantes ainda era desconhecido. Foi um dos pioneiros no uso da internet e do marketing viral, amplamente usado em filmes como Cavaleiro das Trevas, Cloverfield e o recente Paranormal Activity.


Agora, dez anos depois, os diretores anunciaram uma sequência para a história (eles rejeitaram veementemente o filme "Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras", lançado em 2000 sem a aprovação deles e com o propósito declarado de aproveitar a fama do primeiro filme). Vai ser interessante ver como todos esses anos influenciaram sua concepção do trabalho. Seria ainda mais interessante se a nova parte fosse lançada agora, para fazer tal qual o primeiro capítulo e encerrar o ano com chave de ouro, ainda que este ano não tenha sido brilhante como 1999. Resta esperar Avatar. Ou, quem sabe, mais dez anos.

2 comentários:

CrápulaMor disse...

Não sabia que Bruxa de Blair 2 tinha sido lançado sem a aprovação dos diretores! Lembro que o filme foi muito criticado, realmente é inferior ao primeiro. Mas, mesmo o original foi criticado logo depois do seu lançamento. Acho que a proposta era muito nova, ainda causava algum desconforto ou resistência em quem assistia. Eu lembro que gostei bastante, mas gerou bastante polêmica. Hoje, há todo um borburinho em torno de Avatar. Acho que será a minha escolha, na próxima vez que for ao cinema. Mas estou muito a fim de assistir ao Salve Geral também! Dúvida!

Anônimo disse...

Não é bom esperar muito de um filme a ponto de imaginar que ele pode salvar o ano ou torná-lo melhor. Afinal, não é bom esperar nada de nada. Expectativas trazem decepção. Eu prefiro ignorar e me surpreender no final. Mas isso é texto antigo meu; eu sempre falo isso.

Quanto a Bruxa de Blair. Taí um filme que gostei e ainda me arrepia em pensar nele... Uma mentira que de tão bem contada quase virou verdade.

Tô afim de ver Distrito 9.

Seguidores