Moda ou moral

Se Eu Fosse Você 2 conseguiu a quinta maior renda do cinema no Brasil, apesar da pirataria, alto custo dos ingressos e outros fatores de crise. Anticristo chocou muita gente (com razão) e causou intensa polêmica com cenas de violência explícita e seu discurso sobre as mulheres. Atividade Paranormal, filme de baixíssimo custo, conseguiu seu sucesso apoiado em campanha de marketing pela internet e num boca-a-boca entre os espectadores sobre o terror do filme (exatamente como A Bruxa de Blair fez uma década atrás). Avatar, provavelmente o filme mais caro já feito até hoje, trouxe revoluções tecnológicas em seus efeitos visuais e definiu um novo parâmetro para o uso do cinema 3D. E é mesmo um filme muito bom. Mas, de todas estas "comoções" e burburinhos provocados por filmes lançados este ano, o sucesso de Lua Nova tem maior destaque porque, definitivamente, ele vai muito além das qualidades do filme ou da eficiência da campanha de marketing.

Para variar, é a adaptação de um livro: o segundo volume da série literária Crepúsculo, best-seller e sucesso entre o público adolescente. Conta a história do amor entre uma jovem e um vampiro. Ele, apesar de existir há mais de um século, ainda frequenta a escola e se dedica integralmente à namorada, mesmo que ela seja décadas mais nova e inexperiente. Ela, fascinada com um vampiro que não bebe sangue humano e ainda brilha como diamante sob a luz do sol, quer largar tudo para ficar com ele (valores do feminismo são algo muito, muito distante). Sim, impossível não ser terreno fértil de escárnio com uma trama assim. Mas funcionou porque simplesmente apresentou uma nova roupagem do amor romântico, puro e idealizado para adolescentes. Tão puro que é uma metáfora para a castidade, como se o sexo fosse um passo para trás na afirmação honesta dos sentimentos.  Para uma geração cada vez mais precoce, amparada na liberdade audiovisual da internet, acostumada a aproveitar a efemeridade de seus gostos, ainda impressiona ver como os jovens tratam o romantismo não como estratégia de sedução,  mas como valor de relacionamento. Não somente os jovens, claro. Mas, de uma forma ou de outra, os mais experientes sabem que não é bem assim, embora não signifique que tudo sempre acabará como um conto de A Vida Como Ela É.

Mas também é preciso levar em conta as crenças de eternidade comuns a adolescentes. Amigos para sempre e afins. Por que seria diferente no namoro? Inúmeras fotos e declarações em sites de relacionamento, alianças de compromisso, contato direto por celular, planos e mais planos, etc. Para muitos, é apenas um comportamento típico da idade. Para outros, é um traço para a vida toda. Alguns concluem que companheirismo e fidelidade são fases, outros determinam que sejam valores morais em qualquer relacionamento. E há aqueles que ainda não entenderam direito o que pensar... Talvez o romantismo seja mesmo inerente ao ser humano, nem que seja apenas um resultado das reações químicas que ocorrem no cérebro ao se deparar com a possibilidade, mesmo ainda distante, de acasalamento, reprodução e continuidade da espécie. De fato, mesmo com todas as rusgas e injúrias existentes (e até mesmo por causa delas), é bom ter alguém que simplesmente faz bem e causa a vontade de ser uma pessoa melhor para ela e para si próprio. Talvez por isso (ou por nada disso, quem garante...), o amor romântico persiste. Seja em Camões ou em Crespúsculo, seja como moral ou moda.

Um comentário:

CrápulaMor disse...

Caí na besteira de assistir Crepúsculo (duas horas da minha vida que eu nunca mais vou recuperar), e certamente não vou contribuir para aumentar as incríveis estatísticas de Lua Nova no Brasil. Não pago 1 real pra assistir a continuidade daquilo. XD Mas essa coisa de brincar com valores universais, como o amor, em uma nova roupagem, pode mesmo explicar parte do sucesso desta trilogia - o qual ainda é muito difícil de ser compreendido por mim.

Seguidores