Pipoca e aniquilação

Uma das piadas mais recorrentes no twitter sobre o blecaute que atingiu pelo menos dez Estados na noite de ontem foi que tudo não passava de um marketing viral para a estreia do filme 2012. O fim do mundo pode começar com estranhos fenômenos que abrem portas para a violência geral diante da dificuldade ou impossibilidade de segurança pública e punição para os infratores. Mas é difícil acreditar que o novo filme do diretor Roland Emmerich dê atenção a uma possível anarquia destrutiva decorrente da iminência do fim dos tempos. O destaque irá para as cenas de destruição de monumentos famosos e outras localidades, como já foi visto em Independence Day e O Dia Depois de Amanhã, também dirigidos por Emmerich. Percebe-se que, além do seu gosto por desastres de escala mundial, o diretor abraçou sem medo o objetivo de fazer filmes para massagear o ego do público norte-americano, mesmo tendo nascido na Alemanha. O feriado de independência dos Estados Unidos é o dia da vitória da raça humana contra os aliens; os franceses são culpados pela acidente nuclear que provocou a mutação no monstro Godzilla (nos originais japoneses, a terra de Obama é a culpada) e cabe aos norte-americanos a tarefa de derrotá-lo; em O Patriota, a batalha pela independência dos Estados Unidos é mostrada de maneira muito clara: os colonos só querem liberdade e justiça (incluindo para os escravos), mas a maldade britânica não permite. Não é de se estranhar que ele tenha demonstrado interesse em dirigir Transformers, mas a Dreamworks preferiu entregar o filme a Michael Bay, outro patriota sem muitas sutilezas.

Mas o problema maior não é ver a predominância da bandeira dos Estados Unidos, até porque isso não atrapalha uma diversão bem montada. O incômodo é ver como insistem em mostrar que, na iminência  da destruição do planeta, cada indivíduo mostra seu valor mais puro e nobre, se preocupando em discutir relações e curar traumas familiares (e são justamente aqueles que sobrevivem aos desastres globais). Em qualquer situação de extremo risco, qualquer pessoa  em sã consciência só terá duas preocupações: sobreviver e proteger entes queridos. Sem muita conversa para ensinamentos ou dignidade de valores, priorizando a união de esforços como o objetivo de continuar viva, não para arranjar amigos, o que não necessariamente reflete o lado mais bonito do ser humano (algo que o filme Extermínio retratou bem, mesmo não tratando da extinção da Terra).

Filmes que enfocam sobre o fim da humanidade, e não do planeta, costumam ser mais interessantes (Filhos da Esperança e Eu Sou A Lenda, por exemplo). Claro que, em obras como Guerra dos Mundos, o fim do mundo não é para assustar, mas para divertir. Acaba não atraindo mais, só mesmo pela pipoca, o que obviamente não é nenhum pecado. Não é errado não ser exigente. Mas também não é erro reparar mais em exemplos do tema que despertam o interesse, como o filme Presságio, lançado este ano. Mais do que ver grandes cenas de desastres, interessa se identificar com os personagens e suas reações diante de um problema que, mesmo que a humanidade ainda não tenha experiência prática em enfrentá-lo, já se sabe que não pode ser contornado.

2 comentários:

Repórter de Sandálias disse...

O cinema mundial ta precisando é de criatividade... Fim do mundo, arf!!! Mas lugar comum que isso, só invasão de aliens,rsrsr.

Anônimo disse...

Pra mim também é mais do mesmo. Não me interesso por ver no cinema, principalmente se for pra ver um drama familiar entrecortando cenas de apocalipse.

ps.: Meu problema de atualização foi resolvido? Dei umas olhadas e configurei algumas coisas mais não sei ainda.

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