Para alcançar as nuvens

Assistindo ao documentário O Equilibrista, eu me fazia a mesma pergunta criticada por Philippe Petit em determinada cena do filme. "Por quê?". Qual o motivo para andar sobre um cabo suspenso entre as torres do World Trade Center? Sem nenhum equipamento de proteção, apenas contando com a própria habilidade de equilibrista. Petit viu a notícia da inauguração do maior prédio do mundo (naquela época) e criou sua obsessão. Não diz a razão e até provoca a psicanálise ao afirmar apenas que sempre gostou de escalar coisas. Talvez esta aparente falta de preocupação em entender a si mesmo faça parte do seu magnetismo, porque é necessário saber cativar as pessoas por meses para ajudar num plano tão arriscado. Afinal, montar o cabo é a última parte do processo. É preciso conhecer a estrutura do prédio, enganar a segurança, saber como transportar o equipamento. E tudo isso para um homem brilhar sozinho, equilibrado sobre um fio, mais de 400 metros acima das ruas de Manhattan.

Dito desta forma, não há como não se perguntar por que Petit e seus companheiros fizeram aquilo. Sim, é estarrecedor o momento em que o equilibrista olha para baixo e percebe que chegou o momento de tirar o pé de apoio do telhado e começar a caminhar sobre o cabo. Ou quando decide olhar para baixo e vê a multidão fascinada. De certa forma, Petit carrega um traço heróico por ser firme no seu objetivo (nem que para isso tenha que desrespeitar a lei), desafiar a morte e, no fim, viver uma experiência que nenhum de nós jamais sentirá: estar no topo do mundo moderno, olhar para ele e fazer com que ele olhe de volta. Sim, é invejável. Não apenas a façanha em si, mas o planejamento e envolvimento dos amigos: as discussões, os disfarces, os esconderijos, os temores. Não é à toa que o filme é narrado num ritmo acelerado, como se fosse um assalto a banco. Mas, em vez de se questionar se não estaria ajudando uma pessoa querida a ir para a cadeia, um personagem confessa diretamente seu dilema: "não queria colaborar na morte de um amigo".

E isso leva ao ponto central do desafio do equilibrista: o risco de morrer fazendo tudo valer a pena, mais até do que a admiração das pessoas. É uma ótima história, mas... e se Petit caísse? De um herói louco veríamos apenas um maluco idiota, marcando a primeira tragédia do World Trade Center. Ao mesmo tempo, Petit afirma que seria uma morte linda, pois estaria realizando o sonho de sua vida. E isso não seria cruel ao ponto de implicar na morte de outras pessoas. Coragem ou loucura de reconhecer seu sonho e dar tudo para realizá-lo? Não aceitar apenas os custos das etapas antes do feito, mas o que acontecerá após a sua concretização. A façanha de Petit custou alguma coisa de seus relacionamentos. Mas ele não se arrepende. Talvez isso seja o mais bonito do personagem, mesmo não sendo o mais importante. O filme é claro quanto a isto. Ver um homem se equilibrar entre os dois maiores prédios do mundo e seu sorriso de satisfação equivale a um mito moderno que pode ensinar o valor da perseverança e o prazer de uma realização pessoal. É uma leitura carinhosa de uma ideia insana que, felizmente, teve um bom final.

2 comentários:

CrápulaMor disse...

Caramba, me dá vertigem só de imaginar! Esse filme tem contra-indicação pra quem sofre de labirintite? Acho que não devo assistir! Mas fiquei intrigado pela história, certamente tem que ter um nível de loucura acima da média pra isso.

L disse...

Bom, eu sinceramente acho que talvez a ideia não seja tão insana assim, já que viver uma vida estável, dentro da lei e fazendo diariamente coisas que não gosta até os seus 60 anos de idade pode ser maluquice pra alguém. Morrer fazendo o que gosta pode soar mais aceitável do que viver fazendo algo que não gosta.

Mas a sensação deve ser única, de saber que a sua vida está por um fio. XD

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