Faz sentido para aqueles que entendem

Talvez o pior de se ver um artista transformando o seu sucesso em extravagânica, depois despencando para o ridículo a acabar beirando o ostracismo, é perceber que ele próprio não sabe explicar claramente como tudo aquilo aconteceu. Não se trata de vista grossa ou ego inflamado ou ainda delírios de grandeza, embora não se possa descartar nenhum desses fatores. Há uma infinidade de informações sobre carreira e vida pessoal, possibilitando delimitar o período onde as coisas começaram a desandar e apontar quais foram os motivos para tanto. Mas não é possível ouvir os pensamentos nem acessar as memórias do artista. Por isso incomoda ver que, por mais que mídia e a própria pessoa falem de sua trajetória, no fim resta um olhar de auto-questionamento. Provavelmente porque tal situação não é exclusividade dos famosos.

Assistindo ao documentário Loki, por exemplo, pode-se dizer que Arnaldo Bapstista começou sua descida quando experimentou LSD. Antes reconhecido internacionalmente pelo seu talento frente ao grupo Os Mutantes, ele passou a chamar mais atenção por sua postura cada vez mais excêntrica e incompreensível, falando de viagens à lua e outros assuntos estranhos. Outro caso, ainda mais simbólico, é ver como Michael Jackson passou a ser representado mais pela patética figura de rosto deformado e absurdamente endividada (mesmo sendo multimilionária) do que pela referência histórica necessária para entender a música a partir da década de 80. Talvez a opressão e a ganância do pai tenham causado traumas que, anos depois, refletiram na insatisfação com a própria aparência e na falta de limites com os gastos de dinheiro (além de sua obsessão por temas infantis, chegando ao extremo das acusações de pedofilia). E, no caso de Arnaldo Bapstista, talvez o fim do seu relacionamento com Rita Lee tenha sido mais avassalador do que o vício em alucinógenos. Talvez. Ninguém sabe melhor do que ele, embora ele mesmo pareça não entender plenamente.

No filme JCVD, Jean-Claude Van Damme toca no mesmo ponto, embora de forma mais bem-humorada e menos dramática. Numa sátira à própria carreira, o astro de filmes de ação demonstra conhecer bem quais são os principais motivos das críticas contra ele. Ao mesmo tempo que isso se revela bom terreno para comentários engraçados, também mostra que olhar para si mesmo não é só alegria. E cai numa questão comum a todos os famosos, mas que envolve também muitos anônimos: cada um entende melhor que ninguém a própria vida, mas todo o resto do mundo parece ter mais facilidade em explicá-la (como se precisasse de explicações). Uma sensação interna de estranhamento familiar presente em cada um, onde "a resposta vem antes da pergunta", como diz Van Damme. Mas, infelizmente ou não, para muitos que não encontram o sentido na resposta, resta arriscar a pergunta.

2 comentários:

CrápulaMor disse...

O Arnaldo Baptista ficou tão estranho! Um amigo jornalista fez um vídeo daquela turnê que Os Mutantes fizeram com a Zélia Duncan, e ele aparece na entrevista coletiva. Muito bizarro. Só não mais que o Michael Jackson. E eles não podem perceber isso, não da mesma maneira que a gente. Porque eles vêem de dentro né? E a gente vê de fora.

Lo. disse...

E de repente a loucura maior é reconhecida em quem julga encontrá-la por aí.

E a propósito, troquei de blog. :)

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