Resumo

Não consegui ir dormir logo após desligar. Aproveitei a escuridão parcial da sala para beber alguma coisa e pensar (o que sempre acontece quando muitas memórias e previsões são levantadas). Foi uma conversa que fez bem, muito bem, "só liguei pra dar um oi", logo após eu responder que não estava cansado do dia e informar o novo número residencial, ainda me enxugando do banho.

Nova fase de vida, explicando o que aconteceu, o que era esperado e o que não era. E o que a levou até ali, a ter sentido o que disse que sentiu e a, naquele momento, transmitir tranqüilidade na voz, o que a não impedia de ter vontade de conversar com alguém fora do círculo familiar e de primeira intimidade, mas que sempre declarou amizade, admiração e gratidão pela ajuda, risos e conversas em horas ruins. Novidades, perguntas, conselhos e, por assim dizer, esperança, ainda que esta palavra permanecesse no silêncio.

Perguntas sem interrogação, numa sutileza que fazia falta. "Não esperava que você...", e eu explicava. E ria de graça e ironia, reclamando da própria falta de perspicácia. Eu respondi, no mesmo tom, que ela não teve culpa: mesmo com toda amizade e desabafos freqüentes, me esforcei pra não falar com ela porque era um assunto que eu simplesmente não tinha previsão alguma do nosso comportamento. Uma das vezes em que somos crianças de jeito adulto, não chorando, só esperando que os pais nos digam o que fazer e, principalmente, que digam que vai ficar tudo bem na hora de dormir. Os pais estavam lá, mas ela e outros amigos é que mostraram que somos adultos com direito de errar, exagerar pedir ajuda sem pedir socorro e, acima de tudo, não parar de tocar a vida porque o tempo fortalece ou enfraquece, nunca fica na mesma medida.

Tempo. O semestre ruim no ano passado, as atribulações desse ano... e a lembrança de que muita coisa passou desde que, na sala de aula, fomos os únicos que se dispuseram a ir no comércio comprar miniDVs para nossa sala. Eu, tímido e atento. Ela, rindo, agitada, com reclamações ("se a gente não vem aqui, como é que ia ter gravação?") e já mostrando um pouco dos planos quando puxou um guardanapo de papel da bolsa com anotações e cálculos para pagar internet de banda larga em casa. Não esperava que o seu esforço e competência profissional fossem crescer tanto, acompanhados na mesma proporção pela minha admiração, entre conversas, trabalhos, refeições e viagens.

Duas semanas atrás eu vi uma colega do ensino médio e fiquei feliz em vê-la aparentemente bem, mesmo após vários meses sem contato. Ontem, conversei com uma amiga de faculdade e também me senti alegre, por ter acompanhado o seu progresso durante meses e saber que ela está bem, com seus defeitos e vantagens, nunca parando. Longe ou perto, são pessoas que me ensinaram muito. Fico agradecido por saber que ainda posso reconhecer a importância delas e, no caso do telefonema, ter a chance dizer como admiro o seu comportamento.

Ainda o tempo. No sofá, com o copo na mão, vendo a conclusão de que as coisas acontecem muito rápido. Pessoas e oportunidades atravessam os anos, nos resta fazer o mesmo com os outros, aprendendo e agradecendo os bons momentos e, quando preciso, os maus. Com todos os defeitos e qualidades tão evidentes e tão ocultos, com todas as estratégias racionais e sentimentais para que as coisas saiam do nosso jeito (esperando que seja o jeito certo), não há como fugir do sentimento, após tanto tempo, de que torcemos que as coisas funcionem pra pessoas queridas. Eu, após desligar e depois de pensar muito, me resumi a isso: à vontade de que tudo dê certo pra ela. E que, quando o celular piscar de novo, eu possa estar perto. Nem que seja pra dar um oi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom é ler o que se precisa, e na hora certa, como agora.

o último parágrafo...tiraste da minha cabeça nao foi?! rs :)

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