Tranqüilidade em ficar só, por isso não fui pra casa na hora do almoço. Não era necessidade, apenas preferência. Segurando a nota sobre o balcão para pegar a fatia de bolo e o refrigerante, escutei um estalido. Um beijo. Vi um casal, ele abraçando-a por trás e beijando-lhe o pescoço. Ela distraída olhando para os preços. Continuava bonita, os óculos surpreendentemente não faziam falta, cabelos longos e lisos como sempre. Passaram por mim, chamei o seu nome, a distração dela continuou. Voltei o rosto para o atendente que preparava a bandeja. Então ela veio (o namorado deve ter ouvido a minha saudação) não mais sorridente do que supresa, pedindo desculpas e me abraçando. Sorri de volta enquanto recebia o lanche e disse que já ia comer, poderíamos nos falar depois.
Restavam poucos lugares. Longe da minha intenção inicial, fiquei preparado para dividir a mesa com eles. Não fiquei irritado com isso, o que me fez perceber que gostei de revê-la. Desde o primeiro ano do ensino médio, quando eu e meus amigos conversávamos o quanto ela era simples e íntegra, até o ano em que ela passou no vestibular do curso que sempre quis. Tenho certeza que cada um de nós comemorou a sua aprovação, estivesse em qualquer canto do Estado ou fora dele. Não era atração ou disputa, era o mais próximo da unanimidade entre nós, mesmo após meses sem vê-la. Era nossa protegida, mesmo ela apoiando nos momentos de raiva e desânimo (não foram poucos)
Fiquei feliz em vê-la com um namorado aparentemente carinhoso, carregando material de estudo do curso que sempre quis, verificando o preço dos pães com a mesma simplicidade que encantou no ensino médio. Se algum dos meus amigos daquela época estivesse ali, se sentiria da mesma forma. Não pensei que gostaria de dividir a mesa com alguém quando minha vontade era ficar só. Também não imaginei que um simples cumprimento e a visão dela se afastando para os pães pudesse me trazer alegria quando o máximo que eu queria era calma, cansado de esperar surpresas e criar grandes expectativas. Prolonguei o lanche não para saborear o bolo, mas o momento em que encontramos alguém que simplesmente nos faz bem. Mesmo de longe.
Um comentário:
eu acho tão bom encontrar pessoas de novo, as mais distantes então...é um prazer!
que bom que ainda há alguém que se surpreende consigo mesmo! :)
assim como tu quando a viu.
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