O antes hoje

À Prova de Morte demorou três anos para chegar aos cinemas brasileiros. O filme faz parte do projeto Grindhouse, concebido pelo diretores Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, como uma homenagem aos filmes B dos anos 70, baratos e com ênfase em temas como sexo e violência para animar as bilheterias (exploitation films). Como a qualidade das películas não era das melhores, eram comum as sessões duplas pelo preço de um único ingresso. Até os cartazes eram feitos para divulgar a "promoção" de filmes dois-em-um. Portanto, Planeta Terror (a parte de Rodriguez) e À Prova de Morte (segmento de Tarantino) deveriam ser exibidos em uma sessão contínua, como era feito antigamente. Ambos os filmes têm uma imagem suja, envelhecida, como se fossem realizados naquela época. E ambos fracassaram nas bilheterias nos Estados Unidos. Quem hoje tem tempo e paciência para aguentar no cinema 3 horas de filmes "toscos"? O melhor era a exibição de cada obra separadamente.

Planeta Terror eu vi no começo de 2008, numa sala cheia de jovens casais empolgados com a proposta de terror barato, mulheres atraentes e cenas absurdas. Divertido. Mas não vendeu muitos ingressos por aqui. Então o estúdio segurou a outra parte, À Prova de Morte, para evitar prejuízos. E ficou assim até agora, quando os direitos de exibição passaram para outra empresa. Nesta semana, eu pude ver o filme. Sala lotada novamente, mas muita gente nem sabia o que esperar. Aproveitaram o preço promocional do ingresso, o título curioso (nenhum pôster estava pendurado, apenas um papel informando os horários) e consideraram uma alternativa à franquia Crespúsculo ou Shrek e suas dezenas de adolescentes na fila.

O clima geral foi de decepção, principalmente das mulheres. Mas, perto do fim, houve uma euforia predominantemente feminina. É uma boa ilustração de como Tarantino conduziu seu trabalho: uma parte onde as mulheres são sensuais e manipuladas, outra onde não são tão lascivas, mas demonstram resistência ao perigo. E, para variar, há um desfile de características do "estilo" Tarantino como pés femininos, recriações de cenas de outros filmes do diretor, tomadas dentro de porta-malas, referências a filmes obscuros, longos diálogos (alguns cansativos)... abrindo caminho para o mais do mesmo até Bastardos Inglórios. As sequências de ação são estimulantes e uma das razões disso é a opção de Tarantino em evitar ao máximo efeitos visuais, tornando as cenas mais críveis no seu impacto e violência. E impossível não citar uma sequência ao som da música Down in Mexico que, para mim, se tornou antológica.

Mas o meu maior interesse é reparar na passagem do tempo e as mudanças que ela trouxe no intervalo entre Planeta Terror e À Prova de Morte. No filme de Rodriguez, havia tempo de sobra, vontade maior de escrever, público mais homogêneo na sala e uma boa disposição em assistir vários filmes. Já ao assistir Tarantino era cansaço, tempo mais escasso, espectadores diferentes, mulheres reclamando, jovens mais fúteis. E gostei mais de À Prova de Morte, talvez por julgar que passei a entender um pouquinho mais do que gosto em Cinema. Comparar momentos da vida a partir de sessões de filmes pode revelar alguma coisa do que aprendemos ao longo do processo. Estudos, filmes, livros, experiências, divertidas ou não. Tudo junto e misturado, mesmo com cada coisa em seu lugar. Momentos Down in Mexico. A vida grindhouse.

3 comentários:

Unknown disse...

É interessante notar a passagem do tempo através da comparação com situações semelhantes passadas ou então visitando lugares antes familiares.

E o primeiro pensamento sempre é "como eu era idiota! E como daqui a alguns anos eu vou pensar a mesma coisa do 'eu' agora."

É bom perceber que estamos evoluindo. Ou pelo menos que realmente mudamos, seja pra pior ou pra melhor.

Repórter de Sandálias disse...

Esses filmes são da cultura de massa ou do circuito alternativo?? Não captei a mensagem... Rsrrsrs!!!
Mas a indústria cultural toma conta de tudo mesmo :p

Repórter de Sandálias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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