Durante pesquisa para seminário sobre internet e web, encontrei uma dissertação sobre o tema e, em suas páginas, o seguinte trecho:
"Desde sua fundação, o IBASE acreditava na importância da disseminação das informações para o desenvolvimento da sociedade, constituindo assim um discurso que pugnava pela democratização do acesso aos computadores e às suas redes de comunicação."
O Ibase teve importância estratégica para a consolidação da internet no Brasil. A parte sobre "disseminação das informações para o desenvolvimento da sociedade" é uma das mais interessantes. E se torna ainda mais com a polêmica do blog da Petrobras, onde a empresa divulgava perguntas de jornalistas (e as respectivas respostas da assessoria) antes da publicação da matéria. Ontem a empresa anunciou que irá divulgar perguntas e respostas a partir da zero hora do dia em que está prevista a publicação da reportagem. Foi uma decisão sensata, mas gostaria que ela demorasse um pouco mais a acontecer. Queria ver mais questionamentos sobre o que vale a informação e, principalmente, os grandes jornais em tempos como esse.
Difícil escolher um ponto de partida. CPI, questionamentos, o próprio blog... Melhor começar com o que chamou a minha atenção para o caso: a nota de repúdio da ANJ à iniciativa da Petrobras. Foi importante porque, assim que soube da blog, não concordei com a atitude de publicar perguntas dos jornalistas antes da publicação das reportagens. Não há nenhuma lei que impeça o entrevistado de divulgar os questionamentos aos quais foi submetido, mas não deixa de ser uma falta de consideração com o trabalho intelectual e investigativo do jornalista. E então li a nota da ANJ.
"Numa canhestra tentativa de intimidar jornais e jornalistas..."
" ...prática contrária aos princípios universais de liberdade de imprensa..."
"...configura uma violação do direito da sociedade a ser livremente informada..."
Posso estar muito enganado, mas de acordo com a nota da ANJ entendi que a liberdade de imprensa e o direito da sociedade a ser livremente informada não são questões complementares. A primeira assume ares de prioridade a certos órgãos, enquanto a outra é apenas consequência para o povo. Internet não se inclui como ferramenta no direito ao livre acesso à informação? Qual seria o problema em ler a versão da empresa e depois ler a matéria do jornal em questão (ou vice-versa, desde que seja possível comparar as duas versões)? Se tal prática fosse estimulada, não seria melhor para o direito à informação que a sociedade possui?
Acredito que a liberdade e velocidade da internet ajudaram muitos de nós a conhecer melhor a política de interesses que rege a relação entre empresas e imprensa. Alguns sabiam antes, outros perceberam mais tarde. Uns mais ingênuos, outro nem tanto. Mas todos ficamos mais atentos, principalmente quem estuda e trabalha com Comunicação. Não se trata mais de discutir a questão da "imparcialidade" jornalística, isso já é batido. Mas desconfiamos muito das matérias dos jornais e desconfiamos ainda mais das respostas das assessorias de imprensa (que, embora ainda contem com profissionais que valorizam a importância do jornalismo institucional, são naturalmente voltadas para a convergência de interesses do assessorado). Estamos mais céticos. Também menos ignorantes. Alguma coisa deve ser celebrada nesse resultado.
O principal trunfo dos jornalistas sempre foi a exclusividade de suas reportagens. A internet alterou significativamente este cenário. Chamar a atenção importa mais que informar. Escândalos, denúncias, absurdos da vida, tudo que não seja rotineiro. Como disse o Crápula Mor, ocorre "uma lógica midiática da valorização do incomum". Porém, no ritmo em que estamos, há o risco de incomuns serem os questionamentos que o jornalismo dos grandes veículos deveria provocar. Por isso aprecio tanto a internet. Por isso gostaria que a polêmica do blog da Petrobras durasse mais. Mesmo sabendo que não há altruísmo que supere os interesses próprios de cada lado, sempre é útil aproveitar os ganchos e questionar mais e saber mais quando o objetivo, romântico ou não, é o desenvolvimento da sociedade.
"Desde sua fundação, o IBASE acreditava na importância da disseminação das informações para o desenvolvimento da sociedade, constituindo assim um discurso que pugnava pela democratização do acesso aos computadores e às suas redes de comunicação."
(Marcelo Sávio Revoredo Menezes de Carvalho. A trajetória da Internet no Brasil: do surgimento das redes de computadores à instituição dos mecanismos de governança. COOPE/UFRJ, 2006)
O Ibase teve importância estratégica para a consolidação da internet no Brasil. A parte sobre "disseminação das informações para o desenvolvimento da sociedade" é uma das mais interessantes. E se torna ainda mais com a polêmica do blog da Petrobras, onde a empresa divulgava perguntas de jornalistas (e as respectivas respostas da assessoria) antes da publicação da matéria. Ontem a empresa anunciou que irá divulgar perguntas e respostas a partir da zero hora do dia em que está prevista a publicação da reportagem. Foi uma decisão sensata, mas gostaria que ela demorasse um pouco mais a acontecer. Queria ver mais questionamentos sobre o que vale a informação e, principalmente, os grandes jornais em tempos como esse.
Difícil escolher um ponto de partida. CPI, questionamentos, o próprio blog... Melhor começar com o que chamou a minha atenção para o caso: a nota de repúdio da ANJ à iniciativa da Petrobras. Foi importante porque, assim que soube da blog, não concordei com a atitude de publicar perguntas dos jornalistas antes da publicação das reportagens. Não há nenhuma lei que impeça o entrevistado de divulgar os questionamentos aos quais foi submetido, mas não deixa de ser uma falta de consideração com o trabalho intelectual e investigativo do jornalista. E então li a nota da ANJ.
"Numa canhestra tentativa de intimidar jornais e jornalistas..."
" ...prática contrária aos princípios universais de liberdade de imprensa..."
"...configura uma violação do direito da sociedade a ser livremente informada..."
Posso estar muito enganado, mas de acordo com a nota da ANJ entendi que a liberdade de imprensa e o direito da sociedade a ser livremente informada não são questões complementares. A primeira assume ares de prioridade a certos órgãos, enquanto a outra é apenas consequência para o povo. Internet não se inclui como ferramenta no direito ao livre acesso à informação? Qual seria o problema em ler a versão da empresa e depois ler a matéria do jornal em questão (ou vice-versa, desde que seja possível comparar as duas versões)? Se tal prática fosse estimulada, não seria melhor para o direito à informação que a sociedade possui?
Acredito que a liberdade e velocidade da internet ajudaram muitos de nós a conhecer melhor a política de interesses que rege a relação entre empresas e imprensa. Alguns sabiam antes, outros perceberam mais tarde. Uns mais ingênuos, outro nem tanto. Mas todos ficamos mais atentos, principalmente quem estuda e trabalha com Comunicação. Não se trata mais de discutir a questão da "imparcialidade" jornalística, isso já é batido. Mas desconfiamos muito das matérias dos jornais e desconfiamos ainda mais das respostas das assessorias de imprensa (que, embora ainda contem com profissionais que valorizam a importância do jornalismo institucional, são naturalmente voltadas para a convergência de interesses do assessorado). Estamos mais céticos. Também menos ignorantes. Alguma coisa deve ser celebrada nesse resultado.
O principal trunfo dos jornalistas sempre foi a exclusividade de suas reportagens. A internet alterou significativamente este cenário. Chamar a atenção importa mais que informar. Escândalos, denúncias, absurdos da vida, tudo que não seja rotineiro. Como disse o Crápula Mor, ocorre "uma lógica midiática da valorização do incomum". Porém, no ritmo em que estamos, há o risco de incomuns serem os questionamentos que o jornalismo dos grandes veículos deveria provocar. Por isso aprecio tanto a internet. Por isso gostaria que a polêmica do blog da Petrobras durasse mais. Mesmo sabendo que não há altruísmo que supere os interesses próprios de cada lado, sempre é útil aproveitar os ganchos e questionar mais e saber mais quando o objetivo, romântico ou não, é o desenvolvimento da sociedade.
2 comentários:
A própria resposta da ANJ se encaixa melhor no conceito de chamar a atenção do que informar imparcialmente os fatos
"...configura uma violação do direito da sociedade a ser livremente informada..."
Só quero saber em que ponto a iniciativa da Petrobras feriu esse princípio. Além do mais, é sempre bom poder analisar as várias versões de uma história pra fazer um julgamento mais preciso, mesmo que no final nada mude.
Obrigado pela citação do trecho da minha dissertação acerca do pensamento do IBASE, o qual segue valendo, afinal o progresso de uma sociedade passa pela transparência das informações.
M. Sávio
http://www.slideshare.net/msavio/slideshows
http://www.scribd.com/msavio
http://betarrabios.blogspot.com/
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