Familiar

"Em poucas palavras, o Google visa a digitalizar e a armazenar toda a informação do mundo de modo que ela possa ser utilizada gratuitamente por qualquer pessoa com acesso à internet. Em troca de serviço tão meritório, a empresa quer todos os dados que seus usuários possam fornecer sobre hábitos de consumo e, a partir disso, conquistar toda a verba de publicidade disponível na rede. Seus projetos são tão formidáveis em extensão e os custos previstos tão elevados que parecem ser desenvolvidos não por uma empresa, mas por um país."

Li este trecho da matéria da revista Veja em voz alta, tanto para meu irmão ouvir como para eu digerir melhor o conteúdo. Um dos projetos citados é o O3B, planejado em parceria com o HSBC e a Liberty Global e com funcionamento previsto para o final de 2010. Consiste em posicionar dezesseis satélites ao longo da linha do Equador e, desta forma, oferecer internet em alta velocidade via satélite para localidades menos desenvolvidas do mundo. "A missão do projeto O3B é fornecer conexão de internet de alta velocidade e de baixo custo para "outros 3 bilhões" de pessoas em mercados emergentes na Ásia, África, América Latina e no Oriente Médio."

Soa fantástico e coerente com a filosofia "don't be evil" da empresa. Mas vale observar que, como cada internauta é um consumidor em potencial dos anúncios do Google, serão 3 bilhões de pessoas a mais no leque dos anunciantes. Sendo o site de busca mais utilizado na internet (além de oferecer outros serviços como os populares orkut e youtube), o Google é capaz de armazenar dados de cada computador através do sistema de identificação TCP/IP e elaborar um perfil do usuário a partir dos seus interesses na internet. Desta forma, é possível exibir os anúncios mais adequados a cada tipo de perfil.

Uma vez o atendente de uma locadora de filmes teve que se afastar rapidamente do balcão, permitindo que eu visse de relance a lista dos últimos títulos alugados pelo cliente atendido anteriormente. Mesmo de modo bastante genérico e fugaz, foi possível ter uma idéia das preferências e, portanto, da personalidade daquela pessoa. Atualmente é possível ser bem mais específico diante de blogs, fotologs e sites de relacionamento. E isso, francamente, me assusta um pouco.

Mesmo sabendo que a internet é uma rede interligada, causa uma sensação estranha saber que podem descobrir coisas sobre mim sem eu saber ou, pelo menos, sem saber até onde é possível descobrir a partir do que demonstrei. Paranóia? Pode ser. Nunca lidei muito bem com tecnologia virtual. De qualquer forma, esse sentimento já filtrou muitos textos aqui, até mesmo quando digitava impulsivamente. Saber (supostamente) tanto sobre uma pessoa sem nunca tê-la visto antes... Não se trata de um resgate romântico do contato pessoal entre amigos e parentes, mesmo porque isso nunca foi meu forte. Mas conforta saber que ainda posso ser ouvido, seja numa leitura oral de texto ou num desabafo. A exemplo de hoje, foi bom ler a matéria, lembrar do filme Matrix e perguntar "What is the Google?", percebendo toda a brincadeira e pertinência da pergunta sem usar muitas palavras. Apenas na simultaneidade do sorriso e do olhar.

2 comentários:

Suneko disse...

A idéia de sermos observados por todos os cliques que damos na internet parece ser assustadora, mas internet barata a incríveis GB/s..... me faz esquecer sobre esse controle todo... hehehe adeus ao monopólio da velox, e que venha o grande google que tudo vê!

CrápulaMor disse...

Certamente, os interesses do Google ao difundir a Rede por todos os rincões visam lucro e não têm nada de benevolente. Mas acho que há um erro na premissa. Será que todo este volume de informações sobre as preferências e os comportamentos do usuário AJUDA a construir um perfil ou ATRAPALHA? Eu ainda não tenho certeza da resposta... Ao mesmo tempo que você "conhece" melhor este usuário, você entra em contato com toda a sua complexidade enquanto indivíduo. Os estrategistas de Marketing parecem supor que este indivíduo pertence necessariamente a uma tribo e pode ser encaixado em uma categoria. Mas eu acredito que este comportamento virtual deve ser extremamente plural, permitindo até várias contradições, o que não permitirá a classificação em um categoria ou em uma única tribo, pele menos não de maneira tão clara, simples ou objetiva.

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