Cliques

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo determinou o veto da veiculação do famoso vídeo de Daniella Cicarelli fazendo sexo com um namorado em uma praia da Espanha. Tato Malzoni, parceiro de Cicarelli no vídeo e autor do processo contra o site, pode receber até R$ 250 mil de multa diária caso a ordem seja descumprida.

Rubens Decoussau Tilkian, um dos advogados de Malzoni, divulgou a seguinte nota:

"Fica mantida a decisão que reconheceu a ilegalidade da divulgação do conteúdo sensacionalista do casal e a imposição de multa para aqueles que a desrespeitarem. Diante do desenfreado crescimento das ações judiciais em face desses provedores, são necessárias algumas medidas técnicas, de ordem preventiva, com o objetivo de trazer maior segurança aos usuários dos sites na Internet

Acompanho alguns blogs e li postagens comentando a decisão judicial. A maioria deles era contra. E, por revolta e pirraça, disponibilizavam links do tal vídeo. Menos de 60 segundos depois de ler sobre a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, encontrei cinco links veiculando o vídeo proibido.

Quais serão essas medidas técnicas, de ordem preventiva, citadas na nota do advogado? Pergunto porque, logo depois de ler sobre o vídeo, vi esse texto. Desta vez falava sobre a discussão entre jornalistas e blogueiros ocorrida na Campus Party, em fevereiro deste ano. Um embate entre "a velha mídia e a nova mídia"

Quando li a notícia na época, não dei muita atenção. Foi um erro, não apenas por eu ser jornalista de formação e ter um blog (mesmo não sendo jornalístico), embora isso seja um agravante do meu descuido. Deveria ter me interessado mais principalmente porque minha principal fonte de informação é a internet, e as notícias que leio nos impressos ou vejo na televisão geralmente não são mais novidades, embora sempre procure saber mais em qualquer dos veículos. Sou um dos vários internautas que aproveita o alcance e liberdade da internet (especialmente blogs) para se informar melhor sobre um assunto de acordo com a minha escolha, mas que ainda precisa conferir o tema nos canais oficiais (mesmo presos à linha editorial e outras amarras). Em outras palavras, meu interesse deveria ser maior simplesmente porque me envolve direta e diariamente, fazendo parte do que analiso, escuto, digo e opino, o que inclui este blog.

Há "limites" nas notícias dos principais grupos de comunicação de Belém, por isso busco alguns blogs de informações, confiando na liberdade que eles podem ter. Contudo, a internet tem muito conteúdo falso, já que tudo é tão rápido e de fácil acesso que confirmar fatos e relatos nem sempre é prioridade, como se a rapidez fosse contra a segurança da informação. Como aponta Ricardo Noblat, a navegação virtual possibilita uma participação mais ativa do leitor e dá mais liberdade ao autor e, assim, quem garante a credibilidade do blog (seja de jornalismo, cinema ou automobilismo russo) não poderia ser ninguém além do seu responsável (e aqui inevitavelmente vai uma referência ao Crápula-mor, subindo cada vez mais no conceito ao analisar mídia, política e suas relações).

Este feudo entre blogueiros e jornalistas é uma dessas discussões que são inevitáveis, embora perca cada vez mais a seriedade quando a rivalidade entre os dois lados predomina sobre o objetivo de melhorar a apuração das informações e incentivar os leitores a refletirem sobre o assunto. Não é qualquer blogueiro que pode se comportar como jornalista e nem todo jornalista se adapta (ou reconhece) à importância e aos mecanismos dos blogs e outras possibilidades da internet.

A principal ferramenta dessa relação notícia-internet são os links: as recomendações e indicações que uma pessoa pode oferecer. O link é o caminho da credibilidade do autor e/ou do interesse do leitor, não esquecendo que uma característica depende da outra. Com a liberdade e a rapidez que a internet oferece, a principal segurança do internauta diante do conteúdo que vê é o seu bom senso e o seu conhecimento. Livros, filmes, músicas, pessoas, lugares e o resto da vida que não fica somente diante do monitor. A principal lição que nunca se esquece e nunca se aprende totalmente é que todas essas áreas de conhecimento que influenciam em nossas vidas estão ligadas e, por isso, não se pode desprezar ou supervalorizar nenhuma delas.

Por isso, voltando à nota do advogado Rubens Decoussau Tilkian, é que me pergunto quais são exatamente as medidas técnicas que irão trazer maior segurança ao usuário da internet. Vetar não parece ser o melhor jeito (não precisei de 60 segundos pra me certificar disso). Regra de vida: se quiser aumentar o interesse sobre um obra, basta proibí-la. Se os seres humanos puderam aprender e se desenvolver tanto ao longo da História, mesmo com os todos os obstáculos físicos e naturais e com todas as atrocidades de nossas ditaduras, foi porque nós temos curiosidade em aprender, em confirmar, em conhecer, em testar. A curiosidade não deixa de ser uma necessidade. Venenos e remédios foram descobertos. Mares nunca dantes navegados foram singrados. Planetas foram visitados. Pilhas e pilhas de papel se formaram para armazenar todo esse conhecimento. O que vale clicar num link?

PS: sobre o episódio da Campus Party, aproveito a deixa dos links e mostro um aqui, outro aqui, mais um aqui e ainda este aqui. Há muitos outros. Este é um vídeo mostrando o clímax do embate entre blogueiros de jornalistas. Outro exemplo está aqui. E, para mostrar que estava falando sério no início do texto, este é outro vídeo. Um igual está aqui. E também há outros.

2 comentários:

thiago hakai-so disse...

Olha! Que bom que deu resultado todo o esforço, e um excelente resultado. Deixa logo eu me alinhar num dos fronts, eu sou contra a multa que foi mantida, mas ao mesmo tempo sou a favor dela.

A internet é sim livre e qualquer controle que seja exercido vai por água abaixo. Mas em certos momentos, vídeos e imagens que expõe de forma criminosa a intimidade de pessoas, poderiam ser disponibilizados nessa liberdade que é a internet. Em uma situação assim, não há mais controle sobre o conteúdo, o mundo inteiro já viu, baixou, editou, disponibilizou no seu blog e botou fundo musical e colocou no rapidshare. Mas tem de haver a responsabilização de quem os veicula.

Não creio que o caso da cicarelli e do namorado dela (que eu já esqueci o nome) se enquadrem na definição de exploração da intimidade - afinal era uma praia! Portanto, sou contra a multa porque na minha opinião não foi o que ocorreu, E sou a favor de uma medida que force as empresas disponibilizadoras de certos conteúdos a, como em qualquer outra mídia, serem responsáveis pelo que expõe.

E olha que quem diz isso é alguém que vive baixando música pela net! Mas isso já é um caso de disponibilização não criminosa e é outro rolo...

CrápulaMor disse...

Olha, valeu pela citação! E bem no dia do meu aniversário! Hehehe


Em relação à proibição de veiculação de um material qualquer na Internet, acho pura ilusão. Acho que um dia vamos olhar pra trás e rir de decisões como essa, quixotescas. É proibido veicular o vídeo da Cicarelli onde? No Youtube? Blz! E Google Vídeos? E o Daily Motion? E o Pornotube e derivados? Hahaha Acho que este último seria até mais apropriado pro vídeo em questão. Isso pra não falar nos blogs dos usuários, até porque você mesmo já citou. A Internet é uma Rede, isso é uma obviedade e ao mesmo tempo facilmente ignorada. A partir do momento em que um arquivo cai na Rede, ele é de domínio público, não tem proprietário! Qualquer indivíduo com acesso à Internet pode se apoderar do conteúdo. Os textos que nós escrevemos em nossos blogs são nossos?! Ledo engano! Nossos textos podem ser colados em fóruns de comunidades virtuais e lidos por dezenas de milhares de pessoas, sem nenhuma menção a nossa autoria. E é bom que seja assim!

A “usurpação” da autoria, na minha avaliação, não é o defeito, é o grande benefício da Internet. Quem escreve aqui tem de ter esta consciência. A Internet é, acima de tudo, democrática. Com a mesma facilidade com que eu acesso o site da Folha, eu acesso o blog do Eduardo Guimarães, e vejo que a matéria que havia lido primeiramente distorce ou omite aspectos importantes. Com a mesma facilidade com que leio a Veja on line, leio o Luís Nassif, que descascou a revista do Grupo Abril. E, de quebra, a Rede ainda permite que eu escreva no meu próprio espaço, seja contra, a favor ou um meio termo. Por acaso, se eu discordar da mensagem do William Bonner, há algo que eu possa fazer? Daí este embate jornalista x blogueiros! Aos grandes veículos resta migrar para o on line com a força das suas marcas. Mas aí o campo é aberto... as forças são equilibradas. Na verdade, a Internet inaugura uma nova forma de difusão das mensagens, completamente nova. Isso pra dizer o mínimo. Alguns atribuem à Internet um novo mundo, uma nova natureza. Benjamin, Habermas, McLuhan. Mas isso é outra história...

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