Num piscar mais demorado

A primeira vez que ouvi a palavra 'concessão' foi quando eu tinha uns 9 ou 10 anos. Foi durante uma lição de moral do meu pai. Sem broncas, nem castigos, apenas uma repreensão pra me mostrar que reconhecer que o mundo existe não é suficiente: é preciso interagir com ele, com exigências e submissões dos dois lados. Acredito que tenha entendido bem a lição. Pôr em prática é que sempre foi a parte difícil. Não é tolerar, nem se iludir. É baixar a guarda naquele instante. Melhor definicão está no Aurélio: "admissão de algo que, apesar de contrário a outro fato, idéia ou argumento, não chega a invalidá-los".

Concessões todos fazem. Uma atitude estúpida, um comportamento hipócrita, um evento irritante, um plano ruim, a tudo isso deve-se fazer concessões estratégicas por um bem maior. Resta saber maior exatamente a quem. E saber também as ocasiões. Depois de muito tempo concedido, simplesmete bate o cansaço pra dizer que, neste momento, é do nosso jeito. Se não puder ser assim, não espere sorrisos em vez de reclamações e críticas.

A nós mesmos também devemos fazer concessões. Não se trata de impulso, do tipo que se sente quando se está prestes a fazer uma besteira e se segue em frente, sem saber direito o que está fazendo. Sabe-se o que pode acontecer, o que deverá acontecer, as implicações ruins (justas ou não) que todos os envolvidos receberão em diferentes escalas, os possíveis ganhos (justos ou não) de cada um, as reações dos outros. Tudo dizendo que normalmente esse não é o melhor caminho a se seguir. Mas dane-se: concedo a mim mesmo a permissão de detestar alguém mesmo reconhecendo que ela não tem culpa direta, de não ser simpático mesmo sabendo das desvantagens que isso pode me trazer futuramente, de dar um tempo a algo que exige a sua atenção e a sua paciência (até quando?) ou de desprezar um comportamento por mais que esse não seja o melhor remédio.

E, principalmente, fazer a concessão momentânea de achar que tudo isso é simples assim. Fácil de reconhecer, mais fácil ainda de se fazer, sem hesitação ou arrependimento. Dita a palavra e findo o texto, não sobra ânimo nem pra dizer o "dane-se", quanto mais dizer algo pior. Só mesmo esperar a besteira atingir o ponto final.

2 comentários:

Anônimo disse...

'Concessões todos fazem. Uma atitude estúpida, um comportamento hipócrita, um evento irritante, um plano ruim, a tudo isso deve-se fazer concessões estratégicas por um bem maior. Resta saber maior exatamente a quem.'

isso não é besteira. gostei do texto, me lemboru de algumas CONCESSÕES desnecessárias que eu ando fazendo, vou chutar o pau da barraca mesmo e dane-se!
assim deve dar pra ser mais feliz! :))

Anônimo disse...

Fazer ou não fazer... Isso importa realmente? Afinal, pra quem é feita a concessão, se não para nós mesmos?

Um tipo de hipocrisia velada? Ou simplesmente uma ferramenta de escapismo para àqueles que acham que se abrirem uma concessão para isso ou aquilo serão mais tolerantes com o mundo? O mundo é tolerante conosco? E de que vale tal tolerância, se no final o ciclo de injustiça e hipocrisia se repete?

Eu não faço!

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