Alheio

Muito tempo atrás...


- Você enjoa rápido das pessoas.
- Não é você que se acostuma rápido demais a elas?
- Não, acho que não. Talvez seja você que tenha dificuldade em se acostumar.
- É provável, mas é uma questão de tempo.
- De tempo?
- É, não dá pra saber se uma pessoa é enjoativa, como você diz, em pouco tempo. Aliás, enjoativa não é a palavra certa. Não enjôo das pessoas.
- Tem certeza?
- Tenho, eu tenho que viver com elas.
- Qual é o problema então?
- Não sei... acho que às vezes tudo fica muito parecido. Às vezes acho que é a cidade, outras vezes acho que é coisa da idade, de frescura, de falta do que fazer. E outras vezes acho que realmente é tudo parecido mesmo, sem supresas, mesmo tipo de atitude, de conversa.
- E você quer que o mundo mude por isso? Os outros que se acostumem a você, não você que se acostume aos outros?
- Já pensei dessa maneira, era mais idiota, mas não é isso. Não sei... algo diferente, que surpreenda, que não tenhas reações automáticas...
- E você acha que é diferente para as outras pessoas? Que elas também não enjoam de você? Esse tipo de conversa, por exemplo, não já está enchendo?
- Não...
- Mas ela já aconteceu outras vezes e não parece muito diferente agora. Você ainda não se acostumou a ela?
- Se eu tivesse me acostumado, não me esforçaria pra responder. Há exceções.
- Você é uma delas? Ou eu? Ou outra pessoa?
- Não exatamente. Acho que a gente ainda consegue...
-... surpreender? Mesmo já tendo essa conversa e outras assim antes?
- Isso.
- Acho que não. Eu tô enjoando.
- Tá?
- Tô.
- Então por que você faz os mesmos tipos de perguntas?
- Porque você parece que quer conversar sobre isso.
- Obrigado por conversar comigo, então. Isso prova uma coisa.
- O que?
- Que você também busca se surpreender, ver algo diferente, também tem essa frescura, sei lá. Do contrário, você não conversaria sobre isso. Não estou só.
- Nunca disse que você estava.
- Eu sei.
- Pelo menos até você enjoar de vez.
- Ou surpreender.
- É? E no que você aposta?
- Eu? Nas exceções.
- Exceções costumam perder, você sabe.
- Eu sei, mas por enquanto fico com elas.
- Por quê?
- Não sei. Talvez apareça uma surpresa...


(Curioso perceber, tempos depois, que quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas, você estando de um lado ou de outro. Ou nos dois.)

2 comentários:

Anônimo disse...

ah Igor...não sei não, mas alguma coisa deve acontecer com esses teus textos, caberia a mim também escrever ou 'conversar' uma coisa dessas...impressionante!
caberia a mim falar nesses tempos, agora, hoje! meu Deus! rs

Srta. JATENE, Íris disse...

Rotinas nunca agradam. Mas surpresas demais tornam-se rotineiras. É difícil agradar a todos... Fazer o quê? Ser uma exceção? Mas se toda regra tem exceção, cai-se outra vez na mesmice...
Eita, viajei... rs

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