Historinha

Certa vez um amigo me contou uma história que ouviu, dessa do tipo em que o humor é utilizado pra retirar você da tristeza e, com sorte e lucro, pode gerar alegria. Era sobre como os homens antes determinavam o que era lei natural. O método utilizado era experimentação e observação. Se determinado fator sempre se repetisse, era uma lei natural científica.

Como exemplo, falou de um homem e sua bola de couro que sempre jogava nas mãos de quem passava perto dele. Prevenido nos reflexos, assustado com o gesto, rindo da graça, irritado com o incômodo, estranhando o motivo, qualquer que fosse a reação emocional, uma coisa prevalecia: todos seguravam a bola arremessada e a devolviam para o dono. E o resultado foi a formulação da seguinte lei natural: ao ver uma bola ser jogada em suas mãos, todos irão segurá-la e devolvê-la a quem arremessou, não importando as variáveis emocionais da reação.

Um dia, alguém rebateu a bola. Seja por reflexos mais apurados ou pela simples recusa em segurar um objeto que sabe-se lá onde estava antes, a bola não voltou. O estudioso ficou de mãos erguidas e vazias e a lei deixou de ser lei. E sempre gosto de imaginar que o rebatedor passou pelo dono da bola e não deu a mínima pra ele.

Muita coisa hoje em dia me lembra essa história. Um ato previsível e que por múltiplas razões (tão estúpidas quanto plausíveis) se repete, sempre fazendo esperar um determinada resposta, ficando mais atento apenas às variáveis emocionais. Uma hora estou com a bola, constantemente jogando para os peões da vida que passam por mim. Mas volta e meia sinto vontade de jogá-la pro alto e torcer pra que alguém pegue. Ou que caia na cabeça de um infeliz. E quando vejo a bola ser arremessada na minha direção, tudo me diz para segurá-la. Mas a vontade de rebater às vezes grita alto, tão alto que não ficaria contente em apenas rebater: assim que a bola caísse no chão, eu correria e acertaria o mais preciso e forte chute que fosse capaz, jogando a bendita o mais longe possível. E, indo embora, faria qualquer gesto obsceno ao tal estudioso, destruindo de vez toda a sua lei de observar e prever o comportamento das pessoas.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Um ato previsível e que por múltiplas razões (tão estúpidas quanto plausíveis) se repete, sempre fazendo esperar um determinada resposta, ficando mais atento apenas às variáveis emocionais."

melhor frase que eu escutei nesse mês!
melhor texto do mês, e eu diria que é uma lei bem furada essa, égua!

Anônimo disse...

Tem um poema do Fernando Pessoa, que ele utiliza como prefácio um pedaço de um ritual. Nesse prefácio ele diz que as verdades que achamos controvertidas, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
Nesse poema, ele fala de um príncipe, que encontra em si aquilo que buscava, mesmo que não da forma que ansiava encontrar.
As vezes rebatemos as bolas que nos atiram, com punho fechado,e com furia nos levantamos e seguimos. Só pra encontrar-mos a bola firem entre nossas mãos, ja disseram que o destino é inevitável, não resta muito a fazer não é emsmo meu amigo? A nós, só resta provar que o destino está errado, e soltar a bola. Até breve irmão.

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