Casos sonolentos

Não costumo dormir direito quando estou empenhado numa tarefa ou preocupado. Nas últimas viagens que fiz, o sono era de puro cansaço (praticamente desmaiava), sem ter aquela tranquilidade de adormecer, não pensar no dia seguinte, ter certeza de que vai descansar direito e outras graças de Morpheu. Tarefa acabada ou problema resolvido, a necessidade de dormir se acumula e vem numa noite só, o que provoca eventos estranhos.

Quando voltei de Soure da última vez, eu fui a um aniversário. Estava confiante de que seria uma noite agradável (e não deixou de ser) até que comecei a perder o fio da conversa. Falavam de fotos e, no segundo seguinte, o assunto era telenovela. Tentei entender se falavam de fotonovela, mas começaram a falar sobre um desfile. Quando comecei a juntar tudo na minha cabeça, o tema agora era um rancho. Desisti e comecei a andar ao redor da mesa da cozinha para espantar o sono. Não deu certo. Nem lembro direito como cheguei em casa.

Sexta-feira, dia 9, foi a entrega do meu TCC - motivo da minha ausência deste blog e de outros assuntos. Uma necessidade do curso que virou interesse, depois um fardo titânico e, ao fim, uma mistura de tudo isso (que ainda vou ter que encarar nesse mês). Dias seguidos com preocupações e irritações no lugar das horas de sono. Entregue o trabalho, rapidamento veio o peso das noites em claro. Joguei os tênis no chão, sentei no sofá, liguei a TV e... tudo ficou claro!

A TV ficou ligada a noite toda. As luzes da sala também. Minha mãe não gosta disso. Levantei-me em direção ao interruptor. Caí no primeiro passo: minha perna esquerda não respondia pela dormência. Escutei o barulho da porta do quarto da minha mãe. Reúni forças e fui pulando com a perna direito enquanto agarrava com as mãos a coxa esquerda inerte. Apaguei a luz. Cheguei a vislumbrar a mesa do café da manhã. De pulinho em pulinho, voltei ao sofá e peguei o controle remoto. Mirei a TV quando minha mãe apareceu, sorrindo, vendo minha cara amassada e meu braço erguido em direção à tela. Não sei se ela reparou que minha perna esquerda tava numa posição estranha, Eu também não havia notado até começar o formigamento. Sorri pra minha mãe. Só que era meu irmão.

Ainda estava sentado, com a perna esquerda esticada, metade superior do corpo jogada sobre o braço do sofá. Meu irmão riu. Acho que ia falar alguma coisa do tipo "não é mamãe", mas vi que ainda segurava o controle remoto. Olhei a TV e vi um desenho que me era familiar. Prestei atenção até a tela escurecer.

Dessa vez, eu acordei deitado mesmo. O controle estava ao lado do pescoço. O sol já estava alto. Fiquei sentado com aquela estranha sensação de incerteza do últimos acontecimentos. Lembrei que a Íris ficara de me avisar quando chegasse em casa. Não lembrava de ter falado com ela. Conferi o celular e vi a chamada. Deu só um toque de aviso.

Mais tarde, fui ligando os fatos e entendendo a ordem dos acontecimentos. Liguei pra Íris na hora do almoço. Perguntei se ela havia me ligado mesmo ou só dera um toque pro celular.

- Liguei.
- Ligou?
- Liguei, você falou comigo.
- Falei?

Não conseguia me lembrar. Isso é perigoso. Eu tinha que ir com calma.

- O que foi que eu falei?

Amanhã vou repetir a pergunta. Não lembro da resposta.

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