A variedade de programação cultural nunca foi um dos pontos fortes de Belém, mas ela é privilegiada quando o assunto é cinema. Havia o Cine Palácio, com mais de 700 assentos, incluindo o andar superior, considerado um dos mais bonitos do país. Foi vendido para uma igreja evangélica em 1997. Há o Olímpia (ou Olympia, mas prefiro a outra forma). É o cinema mais antigo do país em funcionamento, inaugurado em 1912 como palco para desfile da última moda européia (Bélle Epoque). Foi fechado esse ano em março e, felizmente, reaberto em dezembro. Tinha também o Cine Castanheira, no shopping. Não era um cinemão de rua (estes estão destinados a sumir). Mas era legal, lembro de alguns filmes que assisti lá na infância, mesmo não morando em Belém. Foi fechado esse ano.
Eu estava no dia da última sessão do Olímpia. Uma noite chuvosa. Levei o meu irmão e encontramos o lugar lotado. Na sala era o maior alvoroço. Imprensa aqui, protesto lá, gente quieta num canto (como eu e meu irmão). Reparei que havia muitos idosos, o que me deixou comovido: acho que ninguém melhor do que eles conseguia sentir a perda do Olímpia, deviam ter na memória muitos filmes que marcaram algum momento da sua vida (quem costuma ir ao cinema sempre tem um filme marcante pra lembrar). Talvez nem freqüentassem mais as salas de exibição, mas decidiram vir naquela noite como homenagem ou nostalgia. Velhinhos quietos, alguns sozinhos, outros de mãos dadas com a esposa. Para fazer o contraste, vi grupos de jovens que, de cara, percebi que eram do tipo que só vão ao cinema para se divertir com pipoca e a "galera", rindo e comentando o filme durante a sessão. Nada contra (embora deteste o barulho que eles fazem durante o filme, o que é comum), mas, diante do respeito e indignação que estampavam as faces do público mais velho, não dava pra não ver o grupinho como uma espécie de intruso pegando o embalo do momento.
O Olímpia foi reformado e voltou a funcionar. Não exibe mais filmes do circuito comercial, mas continua ativo. Depois de protestos, foi tombado como patrimônio cultural da cidade. Uma notícia muito boa. Mas tem um outro cinema que talvez não tenha a mesma sorte. É o Nazaré 1. É impossível não admitir que o conforto e a qualidade do som apresentem falhas. Mas não dá não sentir tristeza vendo que um cinema com características tão próprias esteja falindo. O Nazaré tem um longo corredor até a sala de exibição. Não sou bom nisso, mas acho que deve ter de 70 a 90 metros (por favor, me corrijam se estiver exagerando). A sala é imensa, com entradas laterias e uma central cujo caminho é iluminado pela luzes do chão. Mas o que mais me chama a atenção são os banheiros: são muito sinistros! Talvez fale deles outro dia.
No momento, o Nazaré 1 tá fechado. Dizem que é pra reforma. Espero que sim. Ainda que acabem com o corredor ou dividam a sala em 2 ou 3 multiplex, espero sinceramente que ele continue funcionando. Se for preciso que haja outra noite chuvosa, com imprensa, jovens e idosos se aglomerando na sala, ouvindo discursos de protesto enquanto esperam o filme começar, tudo bem, vamos lá de novo. Mas chega uma hora que bate o desânimo e tudo cansa. Os idosos podem não ter mais vontade de sair, os mais jovens podem preferir para os cinemas modernos dos shoppings. Talvez fiquem em casa mesmo, assistindo a filmes na TV ou vendo a chuva cair.
Um comentário:
"Não é normal nunca ter um ímpeto de loucura"... ehehehehe, isso me conforta...
Seu espaço é muito bacana, Igor, gosto do que vc escreve.
Desejo um fim de ano muito feliz pra vc, moço. Acho que, depois de todas a porradas e arranhões, é o mínimo que a gente merece - e precisa.
bjs,
Brenda
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