Antes do fim do ano...

Sala de cinema no dia 27 de dezembro, minutos antes do filme começar.

- É complicado pra caramba! Tem uma hora que você fica sem direção! É difícil! Need for Speed é muito difícil! Aí eu parei de jogar, não gosto de perder, hehe

- Normal, hehe.

- Já jogou Need for Speed?

- É de corrida, né?

(A conversa foi entre um rapaz e uma moça sentados atrás de mim. Reconheço que não é fácil arranjar assunto com pessoas que não se conhece muito bem, especialmente se for uma moça que pode estar despertando um interesse, como parecia o caso daqueles dois. Mas falar de games? Pior: falar primeiro pra depois perguntar se ela sabe do que ele tá falando? Custava dizer algo do tipo "Sei que você não sabe, mas não tenho outro assunto agora: Need for Speed é uma das maiores séries de corrida dos games." Tem falta de noção pra tudo... Sei que estereótipos enganam, mas resolvi olhar rapidamente pra trás. Sim, o cara usava óculos. E estava duas poltronas ao lado da moça)
- Quem vem ainda?

- O Paulo, a Ciça e a Amanda.

- Então a gente guarda esses lugares aqui pra eles.

- Mas acho que a Ana vem também.

- Que Ana?

- A irmã da Amanda.

- Eu vou ficar sentado aqui, guardando esses dois lugares. Quem se sentar aqui vai sentar na minha mão, hahahaha.

(Três amigos se posicionando na fileira da frente. Uma rapaz, uma moça e uma sombra que não tava conseguindo ver direito de tão baixinha. O famoso "galerão de cinema", com pipoca, refrigerante e várias piadas inteligentes como a da mão na poltrona. Mas o que me intrigou foi a resposta da moça. O cara perguntou quantas pessoas ainda restavam aparecer. Ela respondeu três nomes. Só depois que o cara tava se arrumando ela diz que poderia aparecer mais um. Por que não disse logo os quatro nomes? Imagina se fosse reservando passagem de avião pela intenet. "Quantas poltronas?"/"Tem a do Paulo, a da Ciça e da Amanda"/"Tá, já confirmei"/ "Mas a Ana disse que poderia vir" / "Que Ana?")
- Glub, glub, glub!

(Essa eu não ouvi. Apenas via o cara duas fileiras adiante bebendo um litro de suco de goiaba. Um litro de suco de goiaba! Não deu pra ver o que ele tava comendo, mas não era pipoca).
- E aí? Veio alguém?
- A Renata ainda vem.
- Porra, a Renata?!
- Que tem a Renata? [pergunta a moça]
- É que ela é muito chata! Pior é pro [fulano] que vai ficar sentado ao lado dela, hahahaha.
- Sacanagem, né?!
- Não, não, ela não é chata... só não é legal! Huahuahuahua
(O grupinho na fileira de trás de novo. Chegou um cara e abraçou logo a moça que entendia tudo de Need for Speed. Sentou e continuou abraçado. Foi ele quem perguntou quem ainda vinha e o de óculos respondeu que a Renata iria aparecer. Não entendi porque chamaram a Renata se ela era tão chata assim [ela nem deve ser, existem muitas pessoas que não têm o menor pudor em dizer que alguém é legal ou chato apenas avaliando se ele fala muito ou pouco, se costuma ter porres engraçados, se vai pra qualquer balada, se pega um monte de meninas e fica contando etc]. Deu pra perceber logo que o de óculos sobraria ali, já que o amigo ia ficar com a moça. Pensei que poderia ser alguma artimanha pra ele não ficar apenas segurando vela. Mas geralmente é a própria moça que chama uma amiga nesses casos. Mas ela nem sabia quem era a Renata... O que chegou por último também não saba que ela vinha. Só o de óculos sabia. Restaram duas explicações. Primeira: o de óculos chamou a Renata porque não teve outra opção de companhia [que amigão esse...]. Segunda: o de óculos secretamente gostava da Renata e resolveu chamá-la ao cinema, mesmo que fosse em companhia de outro casal. Talvez fosse tímido em convidar apenas a Renata. Talvez ela gostasse também de games. Talvez fosse um desses românticos que nem sabem direito o que vão fazer, mas deu um primeiro passo e agora ia ver ver no que vai dar. Ele disse que não gostava de perder. Boa sorte pra ele, o que quer que tenha pensado).
- Que falta faz algo pra ler ou uma conversa agradável no meio de tanta gente esperando alguma coisa...
[eu mesmo, na minha poltrona, apoiando o queixo na mão direita, pensando]

- Que frio!

(Íris esfregando os braços enquanto se sentava ao meu lado. Viu logo o cara com o suco de goiaba e riu. Era suficiente para eu não prestar mais atenção ao resto da sala. Além disso, o filme começou. Não vi se a Renata chegou, se a Ana apareceu, se o cara terminou o suco. Não importavam mais. Quem sabe numa próxima sessão lotada...)

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