Igualmente diferente

Vi a matéria ontem no Fantástico e depois li a respeito no 100grana. 25 de maio, Dia Mundial do Nerd. Não sabia. 25 de maio de 1977 foi o lançamento do primeiro filme da série Star Wars. Coincidentemente, comentei a data no início do ano. Star Wars é referência bíblica em cultura pop. Por isso a escolha do dia da sua premiére para comemoração dos nerds. O início dos blockbusters. Não gosto muito da série. Sem dúvida reconheço a sua importância e qualidades (principalmente nas séries animadas e nos games). Mas me divirto muito mais rindo dos seus fatores ridículos. E não são poucos. Talvez pensasse diferente se tivesse nascido na década de 70. Mas não é este o meu incômodo com o Dia Mundial do Nerd. Melhor dizendo, meu incômodo com as manifestações a respeito deste dia.

Gosto de conversar sobre cinema e hq's. Acompanho as teorias sobre minhas séries de TV favoritas. Já fui em muitas estreias de filmes baseados em quadrinhos. Fui em eventos sobre animes e mangás. Até hoje leio sobre RPG, embora não participe de uma partida há meses (e não é preciso um tabuleiro, como disse a matéria do Fantástico). E também já argumentei contra gente que considerava ridícula a ideia de gostar de tudo isso (porque realmente há preconceito, o lado mais grave da ignorância em qualquer campo). Mas nunca pensei em mim ou nos meus amigos como nerds. Rótulos são irritantes e simplistas. Se servirem pela praticidade como referência histórica, topográfica, acadêmica ou pessoal, que seja. Não muda o fato de que é preciso saber mais e melhor sobre o contexto se quiser sentir orgulho de receber alguma denominação. E, por algum tempo, era isso que me irritava: a incursão imediata em uma categoria, nem que fosse por detalhes. Sendo assim, Umberto Eco é nerd porque escreveu sobre James Bond e Steve Canyon, mesmo sob uma visão acadêmica, e Federico Fellini entra na lista por ter sido fã de Stan Lee e dos quadrinhos da Marvel. E o argumento "todo mundo é um pouco nerd" desestimula a conversar mais sobre o assunto. Da mesma forma todo mundo pode ser um pouco roqueiro, poeta, professor... Talvez seja este o motivo do orgulho.

Depois de me acostumar à ideia de que rótulos, embora chatos, nem sempre são pejorativos, veio o fanatismo e visão limitada no meio. Um exemplo vem de uma parte dos aficcionados por mangás e animes, sempre julgando os comics norte-americanos como lixo e clichês (e, como suposta consequência, tudo o que foi produzido nos Estados Unidos). Não deixando de reconhecer a qualidade artística geralmente superior de muitos mangás em relação aos quadrinhos norte-americanos, mas saber da influência que os artistas do Japão receberam durante a ocupação norte-americana do país na Segunda Guerra Mundial ou que Osamu Tezuka, referência histórica dos mangás, foi fortemente influenciado por Walt Disney e Max Fleischer, certa mudaria tal perspectiva. Conhecer as referências do que nos agrada, afinal de contas, no mínimo aumenta nosso interesse pela obra e seu autor.

Ou talvez não. Estou sendo chato e ingênuo demais quando deveria haver apenas alguma alegria diante das obras preferidas de cultura pop, sem pensar muito a respeito. Certo. Pelo menos uma coisa é possível afirmar sem medo: o melhor de ser nerd, assim como em qualquer outra denominação "alternativa" cultural, é ser reconhecido como diferente, com algum destaque entre a maioria, um brilho entre a massa. Se todos fossem fãs de Star Wars, a graça seria detestar George Lucas e ser adepto do estilo "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça". Um exemplo muito simplista, mas não equivocado. Exatamente como ser nerd, exatamente como ser "diferente".

3 comentários:

Repórter de Sandálias disse...

Espera aí, não sei se entendi: você é ou não é um nerd?

Que a força esteja com você!

;)

Bjo

L disse...

Essa parte final pareceu com um professor meu. Após explicar sobre a teoria inteira, ele fala: "ou não". Apesar de estar certo, passa a idéia de que toda a idéia formulada, trabalhada e editada possa estar errada.

CrápulaMor disse...

Pois é. Por isso que os meus desenhos preferidos são Cavaleiros do Zodíaco e X-Men, um legítimo representante do Japão e outro dos EUA. hehe

De qualquer forma, todo rótulo só serve pra quem aplica, nunca pra quem recebe. Por mais que não seja pejorativo. Ninguém é uma coisa só ou tem todos os comportamentos padronizados. É muito fácil apontar o dedo e julgar os outros como sendo "isso" ou "aquilo". Quase sempre, isso provém de um discurso de "normalidade". E, é claro, normal é sempre quem aponta o dedo, anormal é o outro.

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