Década

Em 1977, Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança, dirigido e escrito por George Lucas, se tornava um dos precursores dos filmes blockbusters: além de aguardadas estréias no cinema, são grandes eventos comerciais precedidos por intensa campanha de marketing e com margem de lucros calculada em todas as escalas possíveis, desde os ingressos vendidos até o faturamento com o merchandising do filme. Em 2008, a campanha publicitária de O Cavaleiro das Trevas teve grande apelo na internet: edicões on-line do jornal de Gotham City, vídeos e mensagens do Coringa, quebra-cabeças que revelavam importantes aspectos do filme e outras idéias. Cloverfield - Monstro fez sua campanha praticamente toda amparada na avidez de internautas por imagens e informações do filme, divulgando notícias falsas, fotos suspeitas e aumentando a expectativa da estréia conforme sites de cultura pop (como o 100grana) discutiam o que podia se esperar do filme.

Não havia internet nos anos 70. Star Wars foi a maior bilheteria da década não apenas pela sua campanha de marketing, mas porque realmente tinha uma história fantástica baseada em arquétipos mitológicos que alimentou a fantasia e curiosidade de gerações. Além do aspecto comercial, há de se reconhecer que a luta entre Jedi e Sith envolvendo o uso da Força e dos sabres de luz é um marco na ficção científica que vai além dos lucros. Por isso, em 1999, dezesseis anos depois do lançamento do último filme da série (Episódio VI - O Retorno de Jedi), a expectativa na estréia de
Episódio I - A Ameaça Fantasma era espetacular: fãs dormindo nas ruas para guardar lugar na fila da bilheteria, pessoas que compravam ingresso para determinado filme apenas para conferir o trailer do novo capítulo e logo em seguida abandonar a sessão, gente fantasiada de Darth Vader circulando pelos corredores... O sucesso do filme cumpriu todas as expectativas comerciais, tanto que atualmente é a nona maior bilheteria da história do cinema.

Não foi bem recebido pela crítica, mas há o argumento de que a crítica especializada geralmente é avessa a filmes escancaradamente comerciais. Contudo, era mais do que isso. E não demorou a se perceber que
Episódio I de Star Wars se apoiou muito mais na legião de fãs conquistada do que na qualidade da história para fazer sucesso. Aproveitou-se de ser referência consolidada na ficção científica e teve seu mérito "artístico" ofuscado por um novo marco no gênero: Matrix, de Andy e Larry Wachowski.

Realidade virtual, inteligência virtual, homens contra máquinas, mensagens de religião e filosofia , influências de fantasia e cyberpunk, visual arrojado de super-herói (óculos substituindo máscaras e sobretudos no lugar de capas), kung-fu, tiroteios, efeitos especiais... Exageros à parte, é um emaranhado pós-moderno muito mais condizente com as perspectivas atuais de tecnologia e sociedade do que galáxias muito, muito distantes.

Já se passaram dez anos. Uma década desde a estréia de Matrix, Episódio I e outros filmes importantes para a cultura pop sobre os quais escreverei mais adiante. Dez anos foram mais que suficientes para confirmar uma idéia, mas o décimo aniversário é perfeito para celebrá-la: nunca fui afeito a Star Wars, mas tenho grande apreço por Matrix. Reconheço a importância da obra de George Lucas e sei que as sequências de Matrix deixaram a desejar. Mas não tem jeito: dez anos de empolgação adolescente mais tarde, ainda prefiro o conselho de "liberte sua mente" ao de "use a Força".

"Ao longo da história humana, nós dependemos de máquinas para sobreviver. Destino, ao que parece, não deixa de ter um senso de ironia." (Morpheus)

Um comentário:

CrápulaMor disse...

Olha, daria uma ótima pesquisa acadêmica esse comparativo entre as várias estratégias de divulgação dos filmes, hein? Eu também não sou muito fã de Star Wars, e gostei muito do primeiro Matrix. Lembro que foi mesmo uma febre entre a garotada na época

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