Reação

Se minutos antes da sessão dissera a meu irmão que se tratava de um filme seco, não me referia ao deserto na introdução de Onde os Fracos Não Têm Vez. Tratava-se de um recado sobre o que se esperar do filme, já premiado com o Oscar e chegando com semanas de atraso em Belém. Prêmios e críticas elevam a expectativa. Não são incontestáveis atestados de qualidade nem determinantes obrigatórios da apreciação de cada telespectador. Mas, ao contrário do que dizem muitos afoitos que gostam da pose de alternativos contrários ao sistema (seja lá o que realmente for isso), ainda funcionam como referência no meio de tanta produção que sai do forno.

O "seco" dito antes era por presumir que o filme seria de uma simplicidade técnica e narrativa que não estamos habituados a ver. Simplicidade aparente, é claro. Vendo mais longe, há cuidados e decisões que se revelam complexos e talentosos. E foi isso que as premiações e críticas perceberam e louvaram. Pelo menos era o que eu julgava inicialmente. Estava ali para ver a prova. Supondo que meu irmão não lera tanto sobre o filme quanto eu, disse-lhe brevemente o que esperar, sem ter certeza. Se houvesse alguma, provavelmente não diria nada. Apenas que valia a pena (qual obra não vale?).

Visto o filme, procurei críticas e ensaios a respeito. Como costuma ser, li coisas que eu tinha percebido e ainda mais sobre o que eu não tinha prestado atenção. Claro que fui influenciado pelo conhecimento prévio na hora da sessão. Não poderia ser diferente, assim também como vou ter uma nova visão quando for assistir de novo ao filme. As águas correm.

Afinal, contou mesmo o cinema. Além das leituras e da expectativa inevitável, mesmo que não seja incentivada, vale o gosto pelo filme. Algo diferente, remoendo na memória, o que inclui a última cena, motivo de reclamações de muitos espectadores. Normal. Quando penso num dos personagens falando "não sei como reagir a isso", acho que estou na mesma situação diante do filme, só sabendo que gostei dele por instinto. Agora procuro gostar ainda mais através de memória e raciocínio. Quem dera se eu sempre reagisse assim.

2 comentários:

thiago hakai-so disse...

Faz tempo que não vinha aqui, mas quando volto já recebo uma indicação de filme! rs

Gostei do que escrevestes, vou procurar assistir e ver se compartilho da tua opinião. Dessa vez sem (muito) conhecimento prévio, vamos ver se interfere no meu julgamento rs

CrápulaMor disse...

Sabe um filme, muitíssimo elogiado pela crítica, para o qual eu tinha altas expectativas, mas foi uma decepção total? "Confissões de uma mente perigosa", com o George Clooney. Você deve ter gostado, mas eu quase desisto de assistir ao filme inteiro. Mas persisti, bravamente, esperando aquele final arrebatador, no maior estilo "O operário". Acabou? Foi o que pensei quando começaram a subir os créditos. Ainda não ví "Onde os fracos não tem vez", mas vou acatar a sugstão.

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