"... uma inclinação acentuada apontando para um ponto sem fim, representando a história. Terá no meio, uma ‘fratura’. Um pedaço do monumento que jaz no chão, representando a ruptura do processo revolucionário da cabanagem, a sua derrocada. Mas como a cabanagem continua viva na memória do povo paraense, o bloco continuará subindo para o infinito..."
Nunca me soou um esforço de criatividade. E nem falo do fato dele não ter cobrado pelo projeto. Só me pareceu que não teve muita atenção como merecia. Talvez implicância minha. Mas depois de ler no ano passado que ele não se lembrava do tal monumento em Belém, talvez não seja mera implicância. Reconheço que se lembrar de todos os grandes projetos aos 100 anos é querer muito. Mas também sei que, na mesma entrevista, ele demonstrou muita lucidez, citando detalhes de criações passadas, projetos futuros e governos atuais ("Bush é uma merda!").
Por isso, ao ver a escultura de aço inaugurada em Havana ontem, pensei de novo que Niemeyer fez algo nas coxas. Ele é uma das maiores mentes da arquitetura mundial, é comunista e é amigo de Fidel, justificando plenamente as comemorações de Cuba com a imagem metálica do cubano erguendo a bandeira natal "na defesa da soberania contra o monstro imperialista". Vendo a imagem da escultura e lendo o texto, mais uma vez achei graça. Lembrei de um vídeo que assisti, uma montagem de desenhos infantis com a música Trogdor ao fundo.
Não é qualquer coisa extraída da mente de um gênio que pode ser reconhecida como obra-prima. Se Niemeyer sabe disso, não sei. Pode ter sido piada, pode ter sido sério. Ou, simplesmente, pode ser alguma satisfação, na sua poltrona e fumando seu charuto, em ver a repercussão que ainda gera, desde gritos de "Viva el comandante!" até berros de "Trogdooooooor!".
Trogdor
Sempre considerei o Congresso Nacional um lugar elegante. As duas conchas, a linha vertical no meio, a aparente simplicidade da construção combinando com a vastidão da Praça dos Três Poderes, tudo agradou minha visão. Encaixou no meu gosto, da mesma forma que o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói. Disco voador atraente, belo. Claro que o cenário da praia da Boa Viagem e o Pão de Acúcar ao fundo ajudam a iluminar os olhos. O museu, contudo, é inegavelmente bonito. Não consigo dizer o mesmo do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Posso opinar apenas sobre o lado exterior, já que estava fechado no dia. As fotos internas mostram um lugar vasto e belo, deve ser mesmo. Mas o formato de olho do lado de fora me despertou mais curiosidade do que admiração. Até me lembrou outras formas, além do olho humano, o que me fez pensar se Niemeyer ainda é um grande piadista. Já tive essa impressão quando soube o que era o Memorial da Cabanagem, em Belém. Sim , não deixa de ser uma homenagem ao movimento cabano, cuja importância histórica no Brasil nem merece ser colocada em questão. Mas a construção em si...
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2 comentários:
gostei do texto.
elogio.
100 anos de memória... muito bom
Eu gosto do Niemeyer. Vou dar um desconto pra ele, sabe por quê? Acho que o fato de ele não lembrar um projeto específico não significa que ele não tenha se emprenhado à época em que estava criando. Deve ser difícil lembrar todos! Imagina! É natural que alguns sejam mais marcantes. Quanto aos projetos futuros, são estes que o mantém vivo, lúcido. Eu gosto do Niemeyer pelo que ele representa, por ter pensado a arquitetura de maneira revolucionária e pelo seu posicionamento socialista, este não tem como ele esquecer mesmo, nem daqui a 200 anos. É parte de quem ele é.
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