Sessão

Vi Eu, Robô no cinema. Gostei. Sem sono e com dor de ouvido, novamente assisti ao filme, agora na TV, ontem à noite. Nem lembrava da citação de Frankenstein em certa parte. A evolução das máquinas e seu inevitável confronto com o ser humano, como já visto em Metropolis, Blade Runner, Exterminador do Futuro e Matrix. O melhor filme que assisti esse ano no cinema também foi um de ficção: Filhos da Esperança. Lançado em 2006, mas a exibição só veio em janeiro desse ano em Belém. Mulheres não têm mais filhos há anos, a humanidade vai entrando sem hesitar no caos da iminência de sua extinção e um homem bastante pessimista descobre que ainda há uma mulher grávida no mundo. Além das tensas seqüências inteiras sem cortes e da fotografia, é interessante perceber que, diante da inexistência de uma geração seguinte, a resposta humana é intensa ao ir contra parâmetros que regulam uma sociedade. Terrorismo, revolta, egoísmo, destruição, ceticismo. Por que se guardar para um amanhã que ninguém vai aproveitar? Por que não liberar o ódio ou as mais loucas idéias para o mundo agora, já que em pouco tempo ele será um lugar deserto? Os bons filmes de ficção retratam algo verídico da sociedade, com previsões e analogias. Se um dia todas as mulheres ficarem estéreis, não acredito que haverá união e solidariedade entre as pessoas para enfrentar e esperar o fim da raça.

O meu filme preferido de ficção, contudo, ainda é Gattaca. A ciência genética é extremamente avançada, a manipulação de genes na concepção de uma criança torna-se prática comum. Os pais determinam com a maior precisão possível as características dos filhos antes do seu nascimento. Doenças hereditárias, tendência a agressividade, depressão, miopia, calvície, baixa estatura... todos os "defeitos" são evitados na manipulação dos cromossomos. As qualidades desejadas também podem ser combinadas. Nenhuma concepção fica mais ao acaso de fluidos e prazeres, principalmente porque aqueles que foram concebidos naturalmente tornam-se vítimas de preconceitos e são rebaixados na sociedade. Com o histórico de preconceito racial da humanidade, é muito crível essa resolução. Não tarda para que o filme mostre que não é nossa genética, mesmo com toda a sua influência em nossas vidas, que explica a nossa imperfeição, nem que possíveis desvantagens em nosso DNA determinem o alcance na capacidade de superação e sobrevivência.

Em Filhos da Esperança, a surpresa de ter filhos é um milagre. Em Gattaca, a mesma surpresa é um revés. No primeiro, a humanidade vê o seu fim. No segundo, vê um estágio de evolução. E em ambos os protagonistas não se encaixam no que vêem e reagem. A impressão inicial é de que essa reação foi provocada pelo instinto de sobrevivência e auto-afirmação ou até simplesmente por uma ética solidária ao sofrimento alheio. Tempos depois, essa impressão se mantém, mas mostra a sua raiz: a reação ocorre porque é digno do ser humano viver em oscilações e mutações, encurvando os caminhos retilíneos e planos a sua frente, mostrando do que é capaz (para o bem e para o mal) nem que pra isso tenha que lançar desafios e provocações a queridos e inimigos. Instabilidade, desvios de conduta e quebras de etiqueta vão além da genética e da sociedade. São inerentes ao ser humano e ele faz o mundo caminhar com isso. Não é fácil. O fim pode ser doloroso. Mas após filmes, livros e experiências próprias, é difícil pensar que vale a pena ser e ter o sempre igual. A vida não é feita de momentos uniformes. E, ainda assim, é uma só. Pode passar rápido como um filme, mas ninguém sabe como fica depois que a tela se apaga.

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